Investigação sobre as atividades do bicheiro Carlos Cachoeira pode se transformar na “CPI da Veja”; tratamento da revista ao partido, no entanto, é bem diferente daquele que vem sendo dispensado à presidente da República; enquanto os petistas querem a regulação da mídia, Dilma mantém distância
Na coluna Painel, da Folha de S. Paulo desta sexta-feira, a jornalista Vera Magalhães transmite o recado de uma fonte palaciana: “A agenda do PT não é a agenda do governo”. Em várias colunas, blogs e sites, há manifestações sobre uma suposta preocupação da presidente Dilma Rousseff com a instalação da CPI sobre as atividades do bicheiro Carlos Cachoeira. Uma coluna recente do jornalista Ricardo Noblat também informa que petistas pretendem transformar a CPI sobre o jogo numa investigação sobre as práticas da revista Veja – isso porque Cachoeira foi a principal fonte dos escândalos recentes da publicação, fornecendo grampos e filmes obtidos de forma ilícita. E o próprio presidente da sigla, Rui Falcão, estimulou uma resolução do partido que propõe a regulação da mídia Ainda que a regulamentação dos meios de comunicação seja uma iniciativa positiva, que não deve ser confundida com censura, os interesses do PT nem sempre batem com os da presidente Dilma. Ainda que a hostilidade da revista Veja em relação ao PT seja uma constante, o mesmo não pode ser dito da relação com a presidente Dilma. Se, por um lado, José Dirceu foi filmado ilegalmente num hotel em Brasília e rotulado como “O Poderoso Chefão’, Dilma tem sido tratada com reverências dignas de rainha – o tapete vermelho que a Abril estende a ela tem semelhanças com o tratamento dispensado a FHC, não ao ex-presidente Lula. Além disso, vários escândalos recentes publicados por Veja contribuíram para que Dilma demitisse justamente os ministros que quis degolar. Ao contrário do que muitos observadores da cena política, ingenuamente, pensam, Dilma não fez sua faxina ética a reboque da imprensa. Foi o Planalto que instrumentalizou parte da imprensa para realizá-la. Aliás, a relação entre a presidente e o diretor de redação de Veja, Eurípedes Alcântara, é extremamente cordial e amistosa. Ambos são mineiros e já se encontraram algumas vezes.
Há, portanto, uma tensão no ar. Estimulado por José Dirceu, o PT tem interesse em desnudar o “making of” de diversos escândalos recentes da revista Veja. Além disso, se ficar mesmo comprovado que a revista se associou ao crime para produzir escândalos, o caso deveria merecer uma reflexão profunda de jornalistas e seus patrões sobre as práticas utilizadas no Brasil. Será que é mesmo lícito utilizar grampos ilegais? Filmes clandestinos?
O mais provável, no entanto, é que esta reflexão não ocorra. A reação natural dos grandes meios de comunicação deverá ser corporativista, como se a liberdade de imprensa no Brasil estivesse ameaçada. Logo, surgirão vozes contra a regulação da mídia, o controle e a censura. Dilma tem 77% de popularidade porque até agora vendeu para a opinião pública a imagem de uma mulher séria, disposta a confrontar a classe política. Confrontar excessos dos meios de comunicação pode até ser bom para o País, mas ninguém sabe ao certo se a presidente está disposta a comprar esta briga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário