Casa Nova - Bahia

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17 de dezembro de 2012

José Carlos Aleluia adianta o que vai ser feito para destravar a cidade de Salvador

Anunciado na última sexta-feira (14) como secretário de Urbanismo e Transportes da prefeitura de Salvador, José Carlos Aleluia relata à Tribuna quais são suas expectativa para os primeiros momentos à frente da pasta, falando, inclusive, sobre medidas pouco populares envolvendo ambulantes que devem ser tomadas em parceria com a Secretaria de Ordem Pública para ordenar o trânsito na capital baiana.
Apostando na renovação da administração, Aleluia, que entrega a presidência do DEM-BA nos próximos dias, assegura que a prefeitura será formada por perfis técnicos e revela uma dificuldade: formar uma equipe para gerenciar pessoas. “É muito mais fácil você dar todo o suporte na área técnica, seja na área de desenvolvimento urbano, seja de transporte ou trânsito. O mais difícil é você encontrar alguém com capacidade gerencial”. Para Aleluia, tem que haver uma harmonia, a busca por um conceito de desenvolvimento metropolitano, “que no Brasil não pegou, mas que precisa pegar”.
Segundo o democrata, o primeiro desafio do prefeito ACM Neto será mostrar que existe uma administração nova, que existem novos valores na prefeitura em relação a valores que vão ditar a relação com a comunidade. E nessa conta, a iniciativa privada será chamada a participar. “Quem for fazer investimentos de vulto na cidade vai ter que sentar com a prefeitura para fazer investimentos de vulto no sistema viário”.
Questionado sobre o assunto, o novo secretário defendeu o metrô de seis quilômetros e disse que o bilhete único deverá envolver os moradores de Lauro Freitas e de toda a Região Metropolitana. Além disso, conheça também a perspectiva do democrata para o relacionamento com os governos federal e estadual, que deve ser de harmonia, segundo ele.
Tribuna – Como está o processo de transição do governo? Está tudo pronto para começar a gestão do Democratas em 1º de janeiro?
José Carlos Aleluia
– Nós estamos trabalhando. O prefeito foi muito feliz em colocar o ex-governador Paulo Souto como coordenador da transição. Paulo Souto é um homem extremamente organizado, profundo conhecedor do serviço público e conseguiu formar uma equipe que está levantando as posições dos diversos órgãos da prefeitura para que nós possamos ainda neste fim de ano – faltam poucos dias para acabar o ano –, nos preparar para dar uma partida para mostrar que existe uma administração nova a partir de 1º de janeiro.
Tribuna – Na visão do senhor, quais são os principais desafios do prefeito eleito ACM Neto?
Aleluia
– O primeiro deles é mostrar que existe uma administração nova, que existem novos valores na prefeitura em relação a valores que vão ditar a relação com a comunidade. Uma prefeitura que vai entender a sua posição de administradora da cidade. Não só administrar o dia a dia, mas, de forma evidentemente participativa, pensar o futuro da cidade. O futuro prefeito certamente vai fazer uma administração voltada para o dia a dia, mas também muito voltada para o futuro. E o futuro significa pensar Salvador em 2030, 2040, que são coisas que aparentemente beiram a ficção, mas as experiências que eu tive no passado em pensar o futuro ainda hoje são muito gratificantes. Eu me recordo quando na década de 1980 pensava Salvador, em termos de energia elétrica naquela época, no século XXI. E hoje quando eu passo, vejo obras sendo feitas, imagino que aquelas obras foram pensadas, foram planejadas, os terrenos foram comprados – agora mesmo vai ser inaugurada uma estação da Coelba ali próximo ao Shopping Paralela, que o terreno foi comprado no começo dos anos 1980, fim dos anos 70. Havia uma tendência para que a cidade se expandisse para aquela área quando nós chegamos na diretoria dizendo que tinha a necessidade de fazer uma subestação ali, em 1980, todo mundo achava que nós estávamos lendo bastante livros de ficção. E a realidade está chegando, a cidade realmente está crescendo, está se adensando – na minha opinião precisa se adensar mais em questão de facilitar o empreendimento imobiliário. Às vezes as pessoas pensam que criar obstáculos para investimento imobiliário é positivo. Não, não é positivo. Se você cria obstáculo para o empreendimento imobiliário, se você encarece o empreendimento imobiliário, você distancia as pessoas do seu apartamento, do seu sonho de casa. Algumas cidades do mundo têm errado muito na questão das limitações de construção. Quando você limita demais, você de certa forma satisfaz o egoísmo de quem está instalado, mas coloca para as franjas da cidade, para os subúrbios cada vez mais distantes, pessoas que gostariam de morar em outro lugar. É necessário entender a cidade como um todo, dar independência aos seus bairros. É uma tendência moderna também que as pessoas possam resolver as suas coisas onde moram. Você imaginar que todas as coisas dos residentes de Cajazeiras têm que ser resolvidas vindo ao centro da cidade, ao centro antigo, é um erro. Deveremos resolver quase tudo lá, é uma tendência moderna, para que ele resolva algumas coisas andando, e tudo seja mais fácil. Porque tudo na vida das pessoas – e a cidade é gente, não é prédio, não é rua, é gente – se resume em como ocupar o dia. Se você tem um dia, onde você gasta quatro horas no deslocamento e o deslocamento não é prazeroso, você tem quatro horas de tormenta. Quatro horas que poderiam ser do trabalho ou, muito mais importante ainda, do lazer da família. Esse é um desafio, e o prefeito está muito consciente disso.
Tribuna – A reforma administrativa aprovada pela Câmara de Vereadores formatou um conceito diferente para a gestão da cidade. Na visão do senhor, qual o perfil da próxima administração municipal?
Aleluia
– Um perfil técnico, onde o prefeito escolheu pessoas que têm vinculações partidárias, como eu por exemplo, mas não escolheu porque o partido pediu. O prefeito não tinha nenhuma necessidade de escolher ninguém do Democratas e escolheu a mim. Ele não tinha obrigação de escolher nenhum dos escolhidos, que têm condições de preencher os cargos.
Tribuna – Há pouco o senhor falava de uma visão desenvolvimentista para a cidade. Tudo o que se tenta fazer aqui se esbarra ou na insegurança jurídica ou em alguns órgãos que criam sempre obstáculos. O prefeito eleito está preparado e o senhor também pensa da mesma forma que é importante lutar para criar alternativas reais para a cidade, mesmo que isso venha a contrariar um probleminha aqui ou outro ali?
Aleluia
– Nós temos que criar o aparato jurídico para resolver esse problema. Nós temos que ter o que for necessário, vamos ter que aprovar leis e a Câmara dos Vereadores certamente vai entender isso. O que você está levantando é um dilema das cidades grandes. Você vê ao longo do século XX, as cidades grandes, muitas delas foram estranguladas porque havia sempre movimentos que impediam a renovação da cidade. Uma coisa é você preservar o que é patrimônio histórico. Outra coisa é você preservar o que é importante para o ecossistema. Outra coisa é você ter uma visão meramente romântica do que é o ambiente urbano. O ambiente urbano é um ambiente ecologicamente correto, porque é muito mais favorável ao meio ambiente você usar o espaço urbano para as pessoas morarem do que fazer um o discurso de uma vida toda ela sustentada em quatro rodas. O que eu defendo é uma cidade andável, o que não significa que você pode andar a cidade toda. Mas uma cidade onde as pessoas se desloquem, grande parte das suas coisas – e existe uma literatura farta, pois a maior parte da literatura sobre urbanismo publicada no passado vem toda nessa direção, das cidades andáveis – e as cidades antigas e grandes que seguiram no caminho da modernização terminaram cidades andáveis. Só no Brasil, você tem o Rio de Janeiro, com bairros como a Tijuca, como Ipanema, Leblon, Copacabana e até bairros na Zona Norte, que são bairros andáveis onde as pessoas vivem nos bairros. As pessoas vão às compras no bairro, vão ao médico no bairro, tem tudo lá, shoppings, clube e eventualmente se deslocam para ir à praia ou para ir a algum evento esportivo, cultural. Ou até para o trabalho. Mas não precisa deslocar toda a massa urbana todo dia. Eu acho que esse tema é importante, é entender a modernidade ambiental. Um prefeito em Londres, tido como um ambientalista ferrenho, foi o homem que terminou, por ser ambientalista, entendendo que Londres tinha que mudar a filosofia. E permitindo uma ocupação maior de Londres. Nova York da mesma forma, quando você conseguiu se libertar da ideia de que tudo era histórico. Se tudo é histórico é como se você tivesse um guarda-roupa e todas as suas roupas fossem históricas. Ou seja, você jamais poderá usar uma roupa nova porque a roupa velha está ali, sempre ocupando espaço. Então para se usar uma roupa nova, tem que mudar a roupa velha. São Paulo está fazendo isso agora muito. Curitiba tem feito isso muito. Belo Horizonte tem se modernizado.
Tribuna – E como isso vai acontecer em Salvador?
Aleluia
– A primeira coisa que você tem que fazer quando você quer mudar alguma coisa é procurar enxergar o futuro, que cidade eu quero. Então eu vou tentar, conversando com arquitetos e urbanistas, isso é uma coisa multidisciplinar, vou tentar construir um cenário da Salvador do futuro. Por isso que o prefeito colocou transporte junto de urbanismo. Porque esse cenário tem que ser o cenário da vida das pessoas, e como gente se desloca precisando de transportes, você tem que fazer o planejamento urbano caminhar ao lado de transportes. Não é só fazer avenidas, avenidas, avenidas... É um plano de habitação, de vida, de qualidade de vida. Tendo uma boa visão de planejamento, você tem uma visão do que fazer no curto prazo. Eu diria que, no curtíssimo prazo, o mais importante é o operacional. Isso vale para todas as áreas da prefeitura. Você não constrói nada no espaço de tempo zero. Ou seja, um mês, dois meses, três meses você não constrói nada. Você tem é que operar a cidade, operar no sentido que a prefeitura é a responsável pela operação. Fui para o evento em que o prefeito apresentou o nome dos secretários e fui pela Avenida Sete. Foi difícil pelo seguinte: a Avenida Sete não é uma avenida estreita, mas é uma avenida obstruída, onde os carros estão parados nos dois lados, em alguns lugares proibidos, as pessoas que querem parar, elas param para saltar na terceira faixa e as pessoas não usam o passeio porque está ocupado, então as pessoas têm que usar a rua. Então é evidente que isso faz com que o trânsito ande muito lento. E alguns secretários terminaram chegando tarde. Você pergunta: há necessidade em fazer um grande investimento naquele circuito da Praça da Sé, da Rua Chile, da Avenida Sete? Não, não há necessidade de grande investimento. Há a necessidade de ordenar a cidade, ordem no sentido de que as pessoas possam andar tranqüilamente, revitalizar o comércio. É um equívoco achar que o funcionário da loja ou o dono da loja chegar de manhã estacionar o carro na porta da sua loja, ocupar o espaço, ele vai melhorar o desempenho do comércio dele. Pelo contrário, ele vai matar o comércio dele. As pessoas não vão lá porque está desorganizado. Para melhorar o comércio, você organiza. As pessoas vão continuar indo lá como vão no shopping. Portanto é uma questão de tranquilidade. As pessoas reclamam: “Ah, mas não tem onde estacionar”. É um problema que se resolve. As pessoas quando saem de casa têm obrigação de pensar aonde vão deixar o carro. Elas sabem aonde vão. Se alguém chegar numa grande cidade do mundo e alugar um carro, vai pagar o hotel do carro. Não vai ter outro jeito. Porque o veículo individual é uma coisa maravilhosa, todo mundo adora, eu gosto, mas, ele tem que entender, que aquele é o lugar onde outros vão circular.
Tribuna – O senhor vai assumir a Secretaria de Urbanismo e Transportes. Como o senhor pretende tocar a pasta, qual será o ritmo que pretende empreender?
Aleluia
– O primeiro grande problema é formar a equipe. Eu estou procurando pessoas com capacidade gerencial, eu acho que o problema é gerencial. É muito mais fácil você dar todo o suporte na área técnica, seja na área de desenvolvimento urbano, seja de transporte ou trânsito. O mais difícil é você encontrar alguém com capacidade gerencial. Para formar a equipe, para motivar a equipe, os poucos contatos que eu tive com a equipe da administração municipal, eu diria que, se alguém me perguntasse, qual o legado que você gostaria de deixar e que eu deixei nos lugares onde passei: uma equipe motivada. Orgulhosa de servir ao público. Onde os funcionários pudessem chegar em casa e dizer à mulher, aos filhos, ao sogro, à sogra, ao cunhado, no fim de semana: eu tenho orgulho de trabalhar na prefeitura de Salvador.
Tribuna – Qual o maior desafio e já tem em mente o que fará para destravar o complicado trânsito da cidade?
Aleluia
– Eu não sei se vou conseguir destravar, mas certamente vai aumentar a velocidade de circulação. Em simples operação, operação correta do trânsito. Eu sou engenheiro eletricista, em eletricidade as coisas acontecem diferente do trânsito. Em eletricidade quando você sobrecarrega um condutor, ele sobreaquece, engarrafa a transmissão de energia e pode chega a partir. Então eu sei muito bem o que é a gravidade do que é uma sobrecarga. E tem que evitar a sobrecarga. E você evita a sobrecarga muitas vezes com soluções meramente operacionais. Algumas vezes com soluções de intervenção, de fazer um novo circuito de operação, e isso vai ser feito, mas no tempo. De imediato nós não faremos nada, mas nós vamos chamar a iniciativa privada para trabalhar conosco.
Tribuna – De que forma?
Aleluia
– Quem for fazer investimentos de vulto na cidade vai ter que sentar com a prefeitura para fazer investimentos de vulto no sistema viário. Porque senão não adianta fazer um investimento grande, um edifício, um grande shopping qualquer, grande empreendimento qualquer se aquele empreendimento não se inserir bem no circuito da cidade. Ele vai parecer um corpo estranho na cidade. Vai piorar a vida da cidade. Acho que tudo isso tem que resolver, não pode deixar que as pessoas façam investimento de forma desordenada.
Tribuna – Durante a campanha, os nervos ficaram à flor da pele, mas, passada a campanha, o palanque foi desarmado e o prefeito inclusive já esteve com a presidente Dilma [Rousseff]. O senhor passou tanto tempo em Brasília e conhece a fundo o poder, qual a sua expectativa? Ela vai ser realmente uma parceira da cidade ou ela vai adotar uma postura ‘aos amigos tudo e aos inimigos a lei’, o que for legado da cidade ela libera, o que não for, vai ter que lutar?
Aleluia
– Eu sou otimista com relação a esse trabalho conjunto do governo municipal com o governo federal e com o governo estadual. Não é por outro motivo que o prefeito escolheu ir à presidente em companhia do governador. E a presidente sabe que para a preservação da sua boa imagem, confirmada em pesquisa nacional e que se confirma também em Salvador, e, para a própria visão do governo do estado, é importante que haja um trabalho conjunto. Não adianta continuar no palanque. O prefeito já desceu do palanque, o governador desceu no primeiro dia, tenho que reconhecer isso. O governador, logo que saiu o resultado das urnas, disse que queria trabalhar em conjunto e assim tem sido. Eu já tive reuniões com várias pessoas do governo, discutindo assuntos relevantes da cidade, para a região metropolitana, e acho que o caminho é esse. Nem sempre se chega a um acordo, mas o princípio é o de buscar o entendimento com o objetivo comum que é servir ao cidadão. Que deu uma ordem para os dois. O mesmo cidadão que elegeu Neto elegeu Wagner [Jaques Wagner] e elegeu Dilma. Ele ordenou que todos se entendessem. E é essa a obrigação que nós temos.
Tribuna – A gente estava falando da questão do transporte e muitos especialistas apontam a necessidade de priorizar o transporte de massa, o transporte público. Como o senhor pretende lidar com o sucateamento dos ônibus, a inexistência do metrô, como o senhor vai lidar com essa situação, da falta de serviço público de qualidade na área de mobilidade?
Aleluia
– O metrô nós temos em condição de operar. Estamos conversando com o governo do estado e o governo tem interesse em ter sob sua administração tanto o metrô atual quanto o metrô novo que eles planejaram para a Avenida Paralela. E nós não temos nenhum obstáculo. Apenas entendemos que vamos trabalhar nesse sentido que o sistema de ônibus também tem que se modernizar. O sistema de ônibus também tem que responder à modernização. E para isso nós temos que fazer o quê? Nós temos que fazer o concurso. Os contratos com as empresas de ônibus são precários e quem tem contrato precário faz investimentos precários. Nós vamos exigir – e certamente eles terão o maior interesse em fazer isso – que haja uma competição, haja uma reorganização. Nós vamos sentar para fazer isso. Não é razoável trabalhar com o número de empresas sem nenhum comando da prefeitura. É ruim para as próprias empresas que em algumas horas, em algumas avenidas importantes,tem toda a faixa reservada para ônibus, uma verdadeira fila de ônibus. Eu já cheguei a contar 40 ônibus, um enfileirado ao outro, esperando para parar no ponto. Nós temos que encontrar solução. O Brasil tem experiência muito boa nisso. Belo Horizonte avançou muito, Curitiba é referência no mundo e São Paulo também avançou. Claro que São Paulo avançou mais com o metrô e Salvador tem a promessa de um metrô de grande pressão na Paralela. Eu sou daqueles que, mesmo antes de ser mencionada a possibilidade de eu ser secretário de Transportes, eu sempre disse que o metrô de seis quilômetros é extremamente importante, desde que se entenda que ninguém compra passagem de metrô de seis quilômetros. Mas também compra passagem de metrô nas cidades modernas. As pessoas compram passagem de transporte. Elas querem tomar o ônibus e soltar em Paripe sem pagar duas vezes. Foi esse o tema de campanha. O prefeito ganhou dizendo que ia trabalhar no bilhete único e nós vamos trabalhar no bilhete único. Em São Paulo as pessoas tomam vários transportes. Em média, em São Paulo, cada passagem que é vendida a pessoa usa 1,6 viagens. Não chega a duas viagens. É normal isso. O que não pode é o indivíduo que mora, por exemplo, na Caixa D’Água ter que andar até o Largo do Tamarineiro porque ele tem que pegar um ônibus que vai passar na Antônio Carlos Magalhães. Para ele pegar um ônibus da Caixa D’Água no Largo do Tamarineiro e saltar, ele paga outra passagem. Isso é irracional. Nós vamos chamar os donos de ônibus. Nós não queremos impedir, eu sou um homem que entendo a necessidade das empresas serem eficientes, serem lucrativas para reinvestir no negócio e tirar os seus lucros. Agora, é necessário ter um comando, que tem que ser da prefeitura.
Tribuna – O prefeito ACM Neto sinalizou que iria fazer a licitação dos ônibus e que iria exigir a contrapartida dos empresários justamente para fazer intervenções em viadutos, em corredores de ônibus. Em quanto tempo o senhor acredita que seja possível sentir, pelo menos, um alívio no trânsito e uma melhoria no serviço de transporte público?
Aleluia
– Espero que o alívio venha num curto espaço de tempo. Nos primeiros três meses eu espero que haja isso. A mudança vai exigir a concorrência e nós vamos fazer, que depende do entendimento que nós vamos ter com o estado. Nós vamos ter que ter um trabalho articulado com o estado. Não é razoável que exista essa descoordenação que existe hoje entre os transportes de Lauro de Freitas e os transportes de Salvador. O prefeito não falou isso porque está fora da área dele, mas é razoável que se imagine que o bilhete único envolva também o cidadão de Lauro de Freitas, que o bilhete único venha também envolver o cidadão de Simões Filho e envolver todo cidadão da Região Metropolitana de Salvador. Isso exige apenas boa vontade e determinação. A determinação o prefeito já deu.
Tribuna – Tem alguma área que o senhor tocará como prioridade na questão do trânsito, da fluidez da cidade? Na primeira semana, o senhor sentado na cadeira, qual o seu foco para o mês de janeiro à frente da pasta?
Aleluia
– Deixar as ruas para os carros circularem. As ruas são para carros circularem, para os veículos circularem, preferencialmente para os ônibus circularem, não necessariamente criando dificuldades para os outros veículos. Rua não é para outra finalidade que não seja circular o transporte. E os passeios para os pedestres, isso é importante. Passeio não é para carro.
Tribuna – E o que fazer diante da constatação de que Salvador não tem estacionamento suficiente, inclusive nas ruas...
Aleluia
– Eu sou muito pragmático. Se não tem estacionamento num determinado lugar, não vai de carro. Essa é a solução. A prefeitura não vai criar estacionamento. Estacionamento é um problema do dono do carro com o dono do estacionamento. Se a prefeitura desejar criar estacionamento, ela não vai ter dinheiro para isso. Não tem dinheiro para construir estacionamento, até porque eu não sei explorar. Hoje, estacionamentos são negócios. Certamente aparecerão pessoas interessadas nisso. Você vai em qualquer cidade grande do mundo, você não encontra estacionamento na rua. Nas cidades médias, de um modo geral, o indivíduo pode estacionar na sua porta e tem que tirar licença. Estaciona na porta quem é morador. Eu fui visitar a minha filha que estava morando em Boston (EUA) e ela me disse que não podia botar o carro na porta porque ainda não tinha se inscrito na prefeitura. “Eu estou esperando e semana que vem eu vou me inscrever e a placa do carro e vou poder colocar na minha porta”. Isso é muito normal, mesmo numa rua sem movimento. Carro não é para ficar na rua. Eu não sou contra carro, mas não tem que ficar na rua. Pode ficar na rua? Pode no estacionamento rotativo, no estacionamento numa área que não afete a vida dos outros. Há um conceito que é o conceito de terminalidade. Eu não posso, eu não tenho o direito de, por exemplo, usando uma linguagem que as pessoas entendem, acender uma fogueira na porta da minha casa com pneu. Porque eu vou poluir o ambiente, o piso. Vou fazer uma série de coisas que podem até parecer prazerosas para o incendiário, mas assolam a vizinhança. Essas penalidades têm que ser levadas em conta.
Tribuna – Dentro dessa linha, uma coisa chama atenção. Não vai ser da sua área, mas indiretamente sim. Como é que vai lidar com a ocupação dos passeios pelos ambulantes? Isso também interfere no trânsito.
Aleluia
– Vamos ter que ordenar. Essa é uma questão da secretaria que foi indicada. Evidente que isso não afeta necessariamente o trânsito. Alguns casos o ambulante fica entre o passeio e a rua, nesses casos afetam o trânsito e nós vamos ter que regulamentar, em articulação com a Secretaria de Ordem Pública, mas é claro que, no momento em que você tem uma calçada que está inteiramente tomada pelo comércio, e não só pelo comércio informal, é pelo comércio formal – se você andar pela cidade você percebe que em alguns casos o dono da loja para se proteger ou não termina também instalando a sua loja no passeio. Para ele é muito melhor ele instalar a sua loja no passeio do que deixar um terceiro. Essas coisas todas com diálogo. Preservando, evidentemente, que se cause para os ambulantes que precisam sobreviver, mas que precisam ser ordenados, e a secretaria vai tratar disso.
Tribuna – Há alguma possibilidade da cidade ser pensada por cima? O fluxo da cidade ser pensada de uma forma macro e não isolada, como, por exemplo, a Pituba, a Paulo VI. Existe a necessidade de transformar aquilo numa via única, além dos postos da orla?
Aleluia
– Você tem programas de computador hoje, digitais, para simular fluxo de carros na cidade. A cidade e o bairro não podem ser tratados de forma isolada, até porque o bairro não é isolado, está interconectado. E é preciso fazer simulações e para isso nós vamos usar especialistas, se puder usar as universidades, isso é muito bom, e a partir das simulações fazer intervenções.
Tribuna – O senhor acredita que o prefeito ACM Neto conseguirá construir uma maioria folgada na Câmara que lhe dê possibilidade de aprovar projetos importantes e até medidas mais duras nesse começo de governo?
Aleluia
– Eu acredito que sim, o prefeito vai construir uma maioria, sobretudo porque ele vai refletir muito sobre os projetos que vai apresentar e os vereadores sabem muito bem que a sociedade está acompanhando o seu trabalho. O mais importante que pode existir é transparência. Que as pessoas possam acompanhar o trabalho da Câmara. Que o vereador tenha que explicar quando ele votar contra alguma coisa.
Tribuna – Projetos polêmicos que foram votados essa semana, como o PDDU, a Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo (Louos), como o Aeroclube. Como o senhor avalia polêmicas como essas? Serão danosos para a cidade esses projetos?
Aleluia
– Eu não tenho nenhuma informação de nada desastroso. Eu li o PDDU, nós poderíamos até avançar um pouco mais, talvez tenha que avançar mais no futuro. A questão, por exemplo, do Aeroclube tem que ter solução, acho que ninguém faz investimento assim. Todo mundo sabe que o Aeroclube é um projeto que se inviabilizou. Então para fazer um novo investimento lá, teria que fazer um novo projeto, que foi o que a Câmara de Vereadores fez corretamente e espero que funcione.
Tribuna – O que a cidade pode esperar de José Carlos Aleluia à frente da Secretaria de Urbanismo e Transportes, já que estará à frente de um dos maiores gargalos da cidade?
Aleluia
– Vou ter muita determinação, muita disposição para enfrentar o desafio, que é um desafio da sociedade. Eu sou apenas um condutor disso. Vou ter apoio do prefeito e espero ter o apoio da grande maioria dos vereadores e ter o apoio da sociedade. Eu vou estar com as minhas portas abertas, com as minhas redes sociais disponíveis, meus ouvidos atentos para todas as sugestões que podem ser apresentadas. Agora meu maior problema é, hoje, formar a equipe.
Tribuna – E os bairros, vão ser tratados de que forma nessa questão da mobilidade urbana?
Aleluia
– Sobretudo os bairros não podem ficar isolados, como Cajazeiras é hoje. Cajazeiras é um caso específico de como um bairro fica isolado. Eu estive em Pernambués na semana passada. O acesso a Pernambués é apertado, mas não dá para ter carro estacionado de um lado e carro estacionado do outro. Simplesmente é o mesmo problema. As ruas não são em nenhum lugar do mundo capazes de suportar estacionamentos e trânsito. Você tem que escolher se o carro vai trafegar ou se vai estacionar. Ou seja, você tem a necessidade de se ordenar. Simples. Você vê que o problema é simples. É uma questão de educação. As pessoas têm que se reeducar.
Tribuna – E como criar essa possibilidade para a população de estacionar os seus carros se hoje não há esse espaço disponível?
Aleluia
– As pessoas têm que entender que, se não há espaço disponível, não levem os seus carros. Pode ter o carro, mas não pode levar o carro para onde não tem espaço para estacionar disponível. Você não pode estacionar ao longo da Paralela num dia de domingo porque não deixa os outros transitarem. “Ah, porque não tem espaço”. Tem que achar um lugar. Talvez um lugar mais distante. As pessoas talvez não querem andar. Muitas vezes o comerciante quer colocar o carro na porta da loja dele. Se fosse num lugar que não fosse na avenida, será que não seria melhor um estacionamento rotativo? Onde o cliente estacionasse, pagasse um pequeno valor simbólico para a prefeitura e saísse depois? São coisas que devem ser administradas.
Tribuna – Qual a sua opinião sobre a Linha Viva?
Aleluia
– É um projeto que me agrada muito e eu sempre imaginei isso. Em Brasília eu discuti muitos projetos usando as faixas de servidão. Eu fui presidente da Chesf e diretor da Coelba, as duas têm faixas nessa área. E sempre foi um problema, tanto pra Chesf quanto para a Coelba, você manter a faixa de servidão desocupada. Muita coisa foi invadida, mas muita coisa ainda está desocupada. Eu acredito que boa harmonia entre uma via pública e as linhas de transmissão pode ser muito bom para a prefeitura, para as pessoas que vão se mover, uma nova via de desenvolvimento da cidade. E, para as empresas de eletricidade, diminui o trabalho de fiscalização. As empresas mantêm um batalhão para fiscalizar as faixas para que não sejam invadidas. Um bando de advogados, um bando de fiscais para fazer isso. Tem que se pensar inclusive em Lauro de Freitas. Porque muitas vezes os engarrafamentos são exportados de uma cidade para outra. Hoje é muito comum de você chegar no aeroporto e muito antes de poder acessar o aeroporto já ter engarrafamento porque o acesso a Lauro de Freitas está estrangulado. Tem que haver toda uma harmonia, um conceito metropolitano, que no Brasil não pegou, mas que precisa pegar.
 
Por Osvaldo Lyra e Paulo Roberto Sampaio
Colaboraram: Fernanda Chagas e Fernando Duarte/Tribuna da Bahia

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