Uma sociedade que envia seus jovens ao mundo inteiro para matar, em nome dos
negócios, não pode espantar-se com os massacres de seus adolescentes e suas
crianças, como o de Columbine, e agora o deNewtown, em Connecticut. Muito da
cultura norte-americana tem sido, desde a guerra deliberada contra os índios e o
avanço para o Oeste, uma cultura da morte. Para formar exércitos de assassinos,
é necessário adestrar seus possíveis integrantes para matar sem vacilações. Para
isso é preciso criar os mitos, como os do heroísmo, da coragem, da ousadia, da
força física, da astúcia dos predadores, contra os povos indefesos do mundo
inteiro. É preciso reduzir o homem ao réptil que foi na origem dos tempos.
Ao mesmo tempo, essa sociedade tem dado ao mundo excepcionais pensadores,
escritores e cineastas que, de certa forma, procuram compensar a brutalidade
construída para a defesa dos poderosos titãs das finanças e das corporações
industriais que, há mais de cem anos, vem conduzindo a economia e a política
internacional, em seu proveito.
A idéia de matar é estimulada nos americanos desde a infância. Na
adolescência, a arma de fogo, para muitos, é símbolo da masculinidade. E esse
apego à violência e ao sangue tem sido exportado ao mundo inteiro pela sua
fantástica indústria do entretenimento, na literatura, no cinema e, mais
recentemente, nos jogos eletrônicos e nos enlatados da televisão.
A intimidade com o sentimento da morte gera também o medo, o pânico, e a
vontade paranóica do suicídio. Todos os massacres nos Estados Unidos, e os que
se repetem, por emulação, quase sempre terminam com a morte ou o suicídio dos
assassinos.
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O MASSACRE
O MASSACRE
O massacre de sexta-feira foi o mais pavoroso dos últimos anos. Como lembrou
o presidente Obama, as crianças jamais conhecerão a adolescência, a alegria do
amor da paternidade e da maternidade. Morreram por nada e, por nada, morreu o
assassino.
Não há mais, no mundo, espaço para a segurança e a paz. A pequena cidade onde
houve a tragédia era um oásis de sossego em Connecticut, um pequeno estado da
Nova Inglaterra preferido por intelectuais e artistas americanos. Nos últimos
dez anos, de acordo com as notícias, nela só houve um homicídio.
Preocupam-se muitos em salvar os animais em extinção, como os primatas, as
serpentes, os tigres. É bom que sejam salvos: habitam o nosso mesmo mundo. Mas o
homem já se encontra em extinção há muito tempo, esvaziado que se encontra do
humanismo que o distinguia da vida selvagem. Estamos voltando à pré-história,
mas dotados de fuzis, metralhadoras, mísseis e armas nucleares.
Ainda estamos chorando as crianças mortas, mas se o mundo continuar assim, de
nossos olhos não descerão mais as lágrimas do sofrimento.
( Por Mauro Santayana/Tribuna )
Muito bom. Já tinha visto no blog dele, no www.maurosantayana.com
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