Passei as duas últimas semanas conversando com especialistas em relações internacionais em institutos de pesquisas de Washington e de Nova York, com americanos comuns, e também com economistas americanos e europeus. Todos estão a par do que se passa no Brasil. O discurso da presidente Dilma Rousseff de que é vítima de um golpe não colou. Mas a presença de Eduardo Cunha na presidência da Câmara, conduzindo o processo de impeachment, lançava dúvidas sobre se o Brasil estava se livrando da impunidade e da corrupção ou apenas vivendo uma disputa de poder, que usava as investigações como munição. Por isso, a suspensão do mandato de Cunha é um passo essencial para o Brasil construir uma imagem de credibilidade perante o mundo.
Um taxista de Washington me disse que tinha ouvido na NPR, a rede pública de rádio dos Estados Unidos, que o presidente da Câmara estava usando o impeachment contra Dilma para se livrar de um processo de corrupção contra ele mesmo. E me perguntou se a presidente tinha feito realmente algo de errado.
“As pessoas estão chocadas por causa de Cunha, mas também impressionadas com o Ministério Público, que parece estar construindo uma base sólida para o domínio da lei”, me disse Harold Trinkunas, diretor para América Latina do Brookings, um dos centros de pesquisas mais influentes dos Estados Unidos. “No longo prazo, há otimismo de que o Brasil sairá mais forte. O perigo é de um retrocesso político contra o Ministério Público e o Judiciário, como aconteceu com a Operação Mãos Limpas da Itália depois da ascensão de Silvio Berlusconi.”
“Passei mal quando ouvi Dilma Rousseff afirmar que estava sendo vítima de um golpe”, me contou o diplomata aposentado William McIlhenny, pesquisador do German Marshall Fund, que frequentou o Brasil na juventude, vindo visitar amigos de sua família. “Se o Brasil não tivesse instituiçoes e imprensa fortes, nada disso estaria acontecendo. No meio dessa confusão, há uma história de sucesso. Mas o que vem em seguida é muito importante. A população precisa manter-se focada”, acrescentou o diplomata, referindo-se às investigações contra Cunha e os outros políticos.
Por Lourival Sant Anna / Estadão
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